Nem sempre a possibilidade de nomear sentimentos, incluindo ai dores, sofrimentos, culpas e conflitos está acessível ao ser humano. Não raro, muitas pessoas buscam atendimentos médicos com a certeza de estar sofrendo, por exemplo, um ataque cardíaco que não se configura. Também as dores insuportáveis na coluna e enxaquecas são motivos de infindáveis exames e consultas médicas, mas as causas não se revelam orgânicas.
Frequentemente é a partir de serviços de urgência ou exames que não evidenciam causas clínicas que as recebem encaminhamento para atendimento psicológico – a psicoterapia. É comum chegarem ainda sem entender o motivo de tal indicação, sem encontrar palavras que possam dar conta do padecimento corporal, seria tão mais “fácil” se o problema aparecesse no raio - X, no exame de sangue entre outros.. Seria “melhor” ouvir do médico e de preferência que ele eja taxativo e definitivo, um diagnóstico para uma rápida resolução do problema.
Quando o sujeito é incapaz de nomear o próprio sofrimento a partir de seus recursos psíquicos, o corpo também padece. Impedido de compreender sua dor –aqui falamos de dor psíquica - o corpo é convocado e se transforma em “palco” das mais variadas manifestações dolorosas, angustiantes, enigmáticas. Torna-se um escoadouro, aquilo que não encontra possibilidade de tramitação psíquica transborda pelo espaço orgânico.
Curioso que muitos indivíduos não cheguem a questionar-se sobre as causas não biológicas para seus males físicos, o tempo passa e o psiquismo segue como um território quase desconsiderado por muitos. É comum as pessoas passarem por uma verdadeira peregrinação aos serviços médicos. Convencer-se que, as origens de seus males estão no campo psíquico e não fisíco torna-se objeto de resistência.
Também o físico é atingido pela angústia, sentimento desqualificado,(ou seja, a pessoa não entende suas causas) , que transborda em um ataque de pânico, a experiência é aterrorizante, de uma intensidade brutal para quem a vivencia. Os relatos são aflitos e ocorrem pós ataque, pois na hora as palavras faltam, a sensação é de morte iminente, falta de ar, taquicardia, sudorese. Os sintomas são físicos e na tentativa de buscar de estes indícios do que ficar num vazio absoluto de entendimento. Até por que os ataques ocorrem de forma inesperada, súbita e inexplicável, parentemente desprovidos de articulação com a esfera psíquica.
O que acontece no corpo então pode ser um pedido de “tradução”, de escuta psíquica, aquilo que não encontra possibilidade de ser “nomeado” precisa de algum destino, mesmo que seja o “ataque” somático. Quando este “pedido” é levado em conta pelo sujeito, abrem-se possibilidades de encontrar outros destinos viáveis para o que antes circulava e transbordava repetidamente sem solução. Pode não ser uma solução rápida e simples como a buscada no resultado de um exame, mas com certeza é a chance de construir outras ferramentas para lidar com o sofrimento psíquico.
Luciane Lemos - CRP 07/06648